Chico Buarque é o autor de muitos musicais brasileiros. Provavelmente você já ouviu falar em Os Saltimbancos, Roda Viva e Gota d'água. O último musical está - atualmente - em cartaz no Teatro Riachuelo, localizado no Centro do Rio de Janeiro. Na verdade, Gota d'água não é assinada apenas por Chico, mas também por Paulo Pontes e é uma adaptação da peça grega de Eurípedes, sobre o mito de Medeia, e estreou no ano de 1975.

Sob o nome "Gota d'água [a seco]" e dirigido por Rafael Gomes, trata-se de uma versão resumida da da peça original. Com apenas 1h e 30 min de duração (metade da original) a peça apresenta os dois personagens Joana (Laila Garin) e Jasão (Alejandro Claveaux) principais de sua predecessora. Um formato arriscado e interessante que deu muito certo.

"A seco" pode ter sido originado pelo motivo da peça ser uma versão resumida da original, escrita por Chico, mas ainda assim, torna-se original por utilizar de areia, no lugar de água, na composição de suas cenas.


Os personagens são um casal: Joana e Jasão. Joana é uma mulher um pouco mais velha, que se encontra abandonada por seu ex Jasão  e deixada com dois filhos pequenos e sem dinheiro. Jasão, de apenas 30 anos, por outro lado, após viver por 10 deles com Joana, encontrou no sucesso de seu samba "Gota D'Água" a chance de fazer parte do mundo da música. Assim, Jasão pretende se casar com a filha de um senhorio de casas.  Enquanto isso, Joana está prestes a ser expulsa de casa, pelo novo sogro do pai de seus filhos.

O diálogo é metafórico. É muito inteligente da parte de Chico alinhar uma história de um casal à centenas de situações do cenário político que o cantor já presenciou. Em um dos diálogos a respeito do atual sogro de Jasão viver sentado, percebemos a metalinguagem que associa uma simples cadeira, ao poder que a raça humana possui no simples ato de sentar. A metalinguagem também está presente quando Joana canta a famosa "Cálice" (cale-se) de Chico, ao se ver cansada de sua situação atual de desprezo e ignorando seu ato de ser.

Gota d'agua (a seco) é uma analogia não só de uma jornada quase que silenciada por uma ditadura política. É como funciona o ato do ser, levado ao limite de sua situação. No desprezo. Na amargura. No amor.

Serviço:
Teatro Riachuelo (Rua do Passeio, 40. Centro - Rio de Janeiro)
Quarta a sábado: - 20:30h; Domingo - 17h
Preço: De R$ 40 a R$ 80
Classificação 14 anos