Crítica: La La Land
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Depois de quatro anos reaparece um filme musical na corrida das premiações do cinema. "Les Miserábles" concorreu a vários prêmios, inclusive no Oscar. Já em 2003, o musical "Chicago" esteve em alta. Agora, "La La Land" chega aos cinemas não apenas prometendo ser um filme musical, mas uma homenagem à Hollywood e a todos os musicais que já foram feitos.
No ano de 2010, o roteiro do filme "La La Land" já havia sido idealizado por Damien Chazelle, que é um grande fã de musicais. É possível perceber várias referências à "Singin' in the Rain", "Broadway Melody"e "Les Demoiselles de Rochefort", por exemplo.
Ambientado na grande Los Angeles, o roteiro parece simples. Na cidade onde muitos vão para realizar seus sonhos artístico. Na primeira cena, acompanhamos um plano sequência em que, presas em um engarrafamento, várias pessoas começam a cantar sobre seus planos e sonhos na cidade. "Another Day Of Sun" representa a vida de todos os sonhadores: quando algo de errado acontece, apenas se lembre que o próximo dia será um outro dia de sol.
A trama acompanha dois jovens decidem tentar suas carreiras em LA. Mia é uma atriz iniciante. Sebastian é um pianista de Jazz. Ambos se apaixonam, enquanto também permanecem apaixonados pela arte. Parece uma historia simples, mas que na verdade, é tão bem escrita que partindo de uma premissa cliché, Chazelle se esquivou totalmente deste mal. Não se trata de uma história de amor, porém uma forma de demonstrar que todos nós sonhamos e devemos correr atrás do que queremos. Só que, para isso, no meio da estrada nós podemos encontrar algumas pessoas que podem nos ajudar muito mais do que imaginamos.
Em termos técnicas, o filme é impecável. Chazelle utiliza de todo seu amor pelo gênero para idealizar aqui, sua mais bela homenagem aos filmes que o tornaram quem ele é hoje. Fã declarado da era de ouro musical, o diretor utiliza grandiosos truques de narrativa clássica, que não são vistos há muito tempo. Cortes em fade out circular são do que existe de mais belo utilizado. O diretor aposta também na composição de cenários, obviamente falsos, para compor a narrativa como uma peça recém gravada da Broadway. Há também referências a filmes não musicais, como Indiana Jones e Metrópolis.
O diretor se define como o grande estudioso do plano sequência; título que antes era atribuído a Alejandro Gonzales Iñarritu. Todas as cenas musicais que possuem letra narrativa são compostas por planos sequências bem idealizados, dando-nos a sensação de assistir a um musical em um teatro.
Deve ser observado também a contra posição que o diretor cria sobre o jazz, ao analizar La La Land com seu filme anterior: Whiplash. No anterior, o personagem de J.K Simmons tratava o jazz como obra firme, que deve ser seguida a risco para que o som saia perfeito. Aqui, o diretor utiliza do personagem de Ryan Gosling para mostrar totalmente o contrário: que o jazz é uma junção de mentes criativas, improvisando notas e acordes para juntar uma só melodia; porém, nunca igual a ouvida anteriormente. Ainda assim, Chazelle trás coisas clássicas de seu filme anterior, que caracterizam bem seu estilo. O famoso traveling rápido, acompanhando duas vertentes durante a melodia, volta ainda mais ágil, mostrando um Ryan Gosling tocando seu piano, e uma Emma Stone dançando.
Há quem pense que musicais são apenas histórias cantadas onde todos os personagens são felizes para sempre, todos os casais dão certo e todo mundo se realiza na vida. Pode até ser. Porém, musicais são a forma mais humana de se contar uma história. Personagens de musicais são os personagens mais humanos que existem, pois eles não ignoram o sentimento. Ao invés de fazer isso, cantam sobre o que os aborreceram ou lhes deixaram alegres.
La La Land pode ser a volta triunfal dos musicais à Hollywood. Trata-se de uma prova de que o gênero que acabou sendo esquecido aos poucos pela indústria do cinema, na verdade apenas foi se adaptando a todos os gostos. Atualmente existem musicais de praticamente tudo. Na Broadway já teve até sobre o Homem-Aranha! Sendo sobre os pais fundadores dos Estados Unidos, a Revolução Francesa, sobre um grupo de amigos hippies ou até uma bruxa verde, os musicais viveram, vivem e viverão muitos e muitos anos. Está na hora de Hollywood perceber o que perdeu nesses últimos anos, ao parar de apostar nos musicais.
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